O que aconteceria se todas as mães entrassem em greve? O impacto e a valorização do trabalho doméstico
No cenário hipotético de uma greve das mães, em que todas decidem paralisar suas responsabilidades diárias de cuidado com a família e o lar, surgem questões relevantes sobre a valorização do trabalho doméstico e do cuidado familiar, que por muito tempo foram subestimados e invisibilizados.
Esta discussão está dentro do Projeto de Lei nº 638/2019, inclui a chamada economia do cuidado – trabalho não remunerado exercido geralmente por mulheres – no sistema de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). O PL em tramitação no Congresso Nacional, busca estabelecer direitos e garantias para as trabalhadoras domésticas, reconhecendo seu trabalho e protegendo seus direitos trabalhistas. A proposta visa equiparar o trabalho doméstico ao trabalho formal, garantindo benefícios, uma jornada de trabalho definida e um salário digno. Essa iniciativa busca corrigir a histórica desvalorização desse trabalho, que é frequentemente realizado por mulheres, especialmente mães, que dedicam preciosas horas ao cuidado da família e da casa.
Esse trabalho inclui limpar a casa, fazer comida, lavar roupa, cuidar dos filhos, levá-los a escola, ajudá-los nas tarefas escolares, cuidar dos idosos e doentes da família e, muitas vezes, prestar serviços para a comunidade, ajudar vizinhos, amigos ou parentes. O cuidado também é trabalho.
Já no campo literário, o livro “Quem vai fazer essa comida?”, escrito por Bela Gil, renomada chef de cozinha, ativista e mãe, aborda a temática do trabalho doméstico e sua relevância na sociedade contemporânea. A autora nos convida a refletir sobre a desigual divisão das tarefas domésticas e o impacto disso na vida das mulheres. Bela Gil destaca a importância de compartilhar as responsabilidades domésticas, valorizando o trabalho das mães e promovendo a igualdade de gênero nos lares.
Dentro dessa discussão, a Lei 2647/2021 estabelece a obrigatoriedade da inclusão do cuidado infantil e do trabalho doméstico nos censos demográficos realizados no Brasil. Essa legislação reconhece a importância de mensurar o trabalho não remunerado realizado pelas mães e outros cuidadores familiares, com o objetivo de subsidiar políticas públicas mais efetivas e promover a igualdade de gênero.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNADC de 2019, que faz parte da pesquisa estatística conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou dados alarmantes sobre a divisão desigual das tarefas domésticas e evidenciou que as mulheres dedicam aproximadamente 18,5 horas semanais a mais do que os homens em atividades domésticas e de cuidado com a família. Essa desigualdade de gênero reflete a falta de reconhecimento do trabalho doméstico como uma ocupação laboral que demanda tempo e esforço.
Diante desse panorama, é clara a necessidade de valorizar o cuidado familiar e doméstico como um trabalho essencial, que merece reconhecimento e valorização. O reconhecimento do trabalho das mães e cuidadores familiares é uma das chaves para promover a igualdade de gênero e garantir que essas atividades sejam compartilhadas de maneira equitativa entre homens e mulheres.
Caso todas as mães decidissem entrar em greve, toda a economia poderia paralisar. A ausência do trabalho de cuidado familiar e doméstico teria um impacto significativo no funcionamento das famílias e na sociedade como um todo. As tarefas rotineiras, como preparar refeições, limpar a casa, cuidar das crianças e idosos, seriam interrompidas, levando a uma desorganização econômica de um sistema.
Essa paralisação ressaltaria a importância vital do trabalho doméstico e do cuidado familiar, que muitas vezes é subvalorizado e invisibilizado. O mundo seria confrontado com a necessidade de reconhecer e valorizar esse trabalho, além de compartilhar as responsabilidades entre todos os membros da família, independentemente do gênero.
Além disso, a ausência das mães no mercado de trabalho teria implicações econômicas significativas. Com a interrupção das atividades profissionais, empresas e organizações sentiriam os efeitos da falta de produtividade e da diminuição da mão de obra. Isso poderia resultar em perdas financeiras e desafios operacionais para diversos setores.
A reflexão proposta pelo Projeto de Lei nº 638/2019 e pela Lei 2647/2021 é essencial nesse contexto. É necessário que o trabalho doméstico seja reconhecido como uma ocupação legítima, com direitos e benefícios garantidos, a fim de promover a valorização das mães e dos cuidadores familiares. Essas iniciativas legislativas buscam estabelecer a equidade e a justiça social, criando um ambiente em que as responsabilidades sejam compartilhadas e os cuidados com a família sejam valorizados.
Promover uma mudança cultural e social é fundamental para alcançar essa equidade. Educar as gerações futuras sobre a importância do trabalho doméstico e do cuidado familiar, bem como desconstruir estereótipos de gênero arraigados, é essencial para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Por isso, políticas que reconheçam e valorizem o trabalho doméstico podem promover uma divisão mais igualitária das responsabilidades familiares, contribuindo para uma sociedade mais equânime e próspera.