No coração do Rio de Janeiro, entre os corredores centenários do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, nasce mais uma edição de uma escola que carrega não apenas um nome, mas uma história, um grito e uma direção.
A Escola Marielle de Comunicação, iniciativa do Instituto Marielle Franco (@institutomariellefranco), está com inscrições abertas para sua nova edição, voltada a jovens negros das periferias fluminenses. Mas chamar de “curso” seria minimizar a potência do que está sendo construído ali. O que acontece entre os dias 25 de julho e 10 de outubro será uma travessia coletiva — onde palavras, imagens e tecnologias não servem apenas para informar, mas para transformar.
Com aulas presenciais divididas em dois módulos — um teórico, outro prático —, o projeto oferece mais do que conteúdo: oferece pertencimento. Serão explorados temas como redes sociais, storytelling, fotografia, audiovisual, comunicação estratégica e até inteligência artificial. Tudo com um objetivo claro: formar comunicadores políticos capazes de disputar narrativas e semear futuros possíveis.
A estrutura é pensada para acolher e fortalecer. Cada participante recebe certificado, alimentação no local, material didático e auxílio-transporte. O apoio vem da organização Narra (@narra.br), que há anos atua para amplificar vozes que historicamente foram silenciadas.
“A comunicação é território”
Para Luyara Franco (@luyarafranco), diretora de Legado do Instituto Marielle Franco e filha da vereadora assassinada em 2018, a Escola é mais do que uma homenagem: é continuidade. “Ela é uma semente viva do legado de Marielle”, afirma. “Minha mãe acreditava que a comunicação era ferramenta fundamental para disputar o imaginário, construir novas referências e derrubar cercas simbólicas.”
A imagem de Marielle segue pulsando nos corredores, nos cartazes coloridos, nas palavras afiadas dos jovens que, como ela um dia foi, carregam o mundo nas costas e a esperança nos olhos. E essa esperança agora se soma à técnica, à linguagem, à estratégia.
Luna Costa, fundadora da Narra, complementa: “O projeto reconhece as potências criativas das favelas e das periferias. Esses jovens já vêm fazendo comunicação há tempos, com seus celulares, suas redes, seus poemas. A Escola chega para fortalecer, conectar e profissionalizar essa produção.”
Narrar para existir
As imagens de divulgação da Escola Marielle não seguem o padrão higienizado das campanhas institucionais. Há vida ali. Os tons quentes e vibrantes evocam resistência. Os rostos retratados não são figurantes, são protagonistas. Cada card é uma afirmação de que a juventude preta, periférica e criativa está escrevendo sua própria história — com câmera na mão e consciência no peito.
As inscrições, abertas até o dia 8 de junho pelo site escolamarielle.org ou pelas redes sociais do Instituto, não pedem currículo tradicional. Pedem motivação. Vontade de comunicar para mudar. De narrar para existir.
Uma escola que planta futuros
Em um país onde a comunicação muitas vezes é usada como arma de silenciamento ou distorção, a Escola Marielle aposta no caminho oposto: o da palavra como ferramenta de cura, denúncia e reconstrução.
Ali, jovens que cresceram vendo a favela ser retratada como cenário de tragédia, agora aprendem a mostrar o cotidiano com amor, dor, dignidade e complexidade. Aprendem que não basta ser ouvido — é preciso ser autor da própria voz.
E assim, a Escola Marielle segue plantando sementes. Não apenas na memória de quem a conheceu, mas nos olhos atentos de quem a continuará.
Porque como bem dizia Marielle: “Quantas mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”
A resposta está nas mãos de quem escolhe comunicar para fazer viver.